A ikurriña, a vibrante bandeira do País Basco, é mais que um simples estandarte; é uma cápsula do tempo que carrega a história, a fé e a identidade de um povo. Poucos sabem, no entanto, que suas cores — vermelho, verde e branco — nasceram para representar um território menor, a província de Biscaia, antes de se tornarem o símbolo de toda uma comunidade autônoma. Criada em 1894 pelos irmãos Sabino e Luis Arana, a bandeira foi alçada pela primeira vez em Bilbao, e o que era um emblema regional, com o tempo, se consolidou como o coração visual do nacionalismo basco.


O design da ikurriña é uma fusão simbólica que remete ao escudo da província de Biscaia e à forte identidade religiosa do povo basco. A cor vermelha simboliza o próprio povo basco, sua história e sua identidade. Sobre esse fundo se destacam duas cruzes que se sobrepõem: a cruz verde de Santo André, que não só homenageia o carvalho de Guernica, totem da liberdade basca, mas também representa as antigas liberdades forais. Por sua vez, a cruz branca expressa a fé cristã, um elemento central na fundação do nacionalismo basco. Essa simbologia profunda transformou a bandeira de um ícone local em um emblema de sentimento coletivo, reverberando a história de um povo que se manteve fiel às suas raízes.
Carvalho de Guernica (em basco: Gernikako Arbola) é um carvalho secular que se tornou um dos maiores símbolos das liberdades e autonomia do povo basco. Desde a Idade Média, os representantes da província de Biscaia se reuniam sob a sua copa para tomar decisões e jurar respeito às leis e tradições locais, conhecidas como foros.
Sua história e significado vão além de ser apenas uma árvore. Ele representa a resistência e a sobrevivência da cultura basca ao longo dos séculos. Sob o governo de Francisco Franco, por exemplo, a exibição da bandeira basca (ikurriña) foi proibida, mas a simbologia do carvalho continuou a inspirar o povo.
O carvalho atual é descendente do original e fica em Guernica, uma cidade que também ficou tristemente famosa por ter sido bombardeada durante a Guerra Civil Espanhola, em 1937, evento retratado na célebre pintura de Pablo Picasso. O fato de a árvore ter sobrevivido a esse ataque reforçou ainda mais sua importância como um emblema de perseverança e da luta por liberdade.

A ikurriña trilhou um caminho turbulento até se tornar o símbolo oficial do País Basco. Adotada em 1936, teve sua exibição proibida durante a ditadura de Franco, mas ressurgiu com a redemocratização da Espanha. Legalizada em 1977 e consagrada no Estatuto de Autonomia de 1979, ela se tornou um símbolo de resistência e perseverança. Essa bandeira transcendeu fronteiras, aparecendo até mesmo em lugares tão distantes como Saint-Pierre-et-Miquelon, no Canadá, onde simboliza a herança basca dos colonos. A ikurriña continua a gerar perguntas e a inspirar, provando que, como a sociedade que representa, não é estática. Ela é uma prova de que um pedaço de tecido pode, de fato, contar a história de um povo.