Capital do agroneg�cio não fala ingl�s

Ribeirão Preto � conhecida em todo o Brasil como a capital do agroneg�cio. A cidade j� recebeu v�rios outros t�tulos (ou se auto-intitulou), que podemos chamar de ostentosos: ela j� foi a capital do caf�, capital da Mogiana (região em que fica a cidade), Calif�rnia brasileira (por causa do clima e de sua pseudo-riqueza). Mas, mesmo tendo todos esses belos nomes, não est� preparada para receber visitas na �entressafra� da Agrishow � a maior feira de agroneg�cios do pa�s, que acontece em maio, quando bilh�es de reais são negociados na terrinha vermelha da cidade.

Na quinta-feira passada, fui ao m�sero aeroporto para buscar uma visita vinda diretamente da Inglaterra. Frank, nosso contato comercial na Europa veio de São Paulo para Ribeirão de TAM � e eu ainda tive o despaut�rio de perguntar qual seria o n�mero do vão � como se o aeroporto recebesse mais do que uma aterrissagem por vez ou como se tivesse tel�es com os n�meros de vãos subindo e descendo. E melhor ainda: como se ele tivesse ar-condicionado! Luxo dos luxos, no caso.

Assim que chegou, ele nos contou que quase foi parar no Rio de Janeiro porque quando foi comprar a passagem, não entenderam a pron�ncia dele para Ribeirão Preto (realmente foi engra�adíssimo ouvir o gringo tentar dizer o nome da cidade). Mas a TAM foi extremamente prestativa e trocou rapidinho seu vão e sua bagagem para o avião certo.

Então, fomos deix�-lo no hotel. Ele foi para o Ibis, uma rede francesa, que j� se espalhou pelo mundo inteiro. você realmente acha que o recepcionista falava ingl�s? Ledo engano! Nem uma só palavra. Esperamos que Frank se acomodasse no hotel para irmos ao Pinguim (a choperia de Ribeirão que segue � risca �quele ditado � se estiver em Ribeirão e não for ao Pinguim, �� como ir a Roma e não ver o papa�). Enquanto o esper�vamos, fui fazer minhas perambulações pelo hotel: NADA em ingl�s. Nem um guia, nem um folheto dos restaurantes da cidade (que tinha aos montes). Ou seja, pra saber qualquer coisa, o gringo teria que achar algu�m que falasse ingl�s.

Na sexta-feira, um dia exaustivo de tradução simult�nea, além de neg�cios. Muito menos pessoas do que você imagina falam ingl�s no Brasil. De qualquer maneira, Frank, um otimista, que acredita no pa�s tupiniquim, se desdobrou com o seu �fala um pouquinho de portugu�só.

Tivemos que voltar ao aeroporto porque a passagem de volta de Frank tinha sa�da prevista do Rio de Janeiro (o engano não tinha de todo sido sanado quando trocaram a passagem dele � seria pedir demais) e, mais uma vez o inacredit�vel: no aeroporto, não tivemos a sorte de conversar com ningu�m que falasse ingl�s. Incr�vel como o gringo se daria mal até mesmo para pegar um t�xi na capital do agroneg�cio.

Eu sei... Eu falo ingl�s e me viraria em quase qualquer lugar por isso. O esperado seria que ele fizesse o mesmo: falasse portugu�s. Mas não sejamos radicais. A l�ngua � dif�cil e o ingl�s � a l�ngua ãoficial� dos neg�cios. Como � que uma cidade que se intitula capital de v�rias coisas, um p�lo de neg�cios, não tem estrutura para receber os estrangeiros? Realmente, Ribeirão est� precisando de uma tradução mais realista de suas verdades.

Minha sorte � ter amigos especialíssimos: levamos Frank na Cachaçaria �gua Doce e todos se comunicaram de alguma forma com ele. Ou falando ingl�s, ou fazendo m�micas, ou dando risada de tudo isso. E � claro, o gringo adorou! Porque brasileiro � sempre o melhor que h� nas comemorações!

E por interagir conosco, Frank disse que acredita tanto na nossa criatividade, no nosso dinamismo que tem certeza que daqui 10 anos o Brasil ser� uma nova Austr�lia. Tudo bem, Frank. Eu te ouão, eu te traduzo, mas não te acredito. Daqui 10 anos voltamos a conversar sobre isso...