Blog da Gabi ;)

Divagações, citações, fotos, livros e viagens.
Amigos, família, planos, projetos, música.
Opinião, conversa pra jogar fora, vontade de escrever.

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

17.8.09

Numa cabana com papai

Eu terminei de ler o livro A Cabana em abril, pouco antes de perder minha irmã num acidente de carro. Parece que realmente Deus escreve certo por linhas tortas e que já estava escrito que ele seria um ponto de apoio pra mim.

Foi emocionante ler a história que se apresenta como verídica (eu acredito que seja!) de um pai que perdeu sua filha enquanto eles estavam acampando. A família reunida nas montanhas, dois dos três irmãos tiveram problemas na canoa em que estavam. Enquanto o pai foi socorrer estes dois, um maníaco sequestrou sua caçula, que estava desenhando ali perto.

Depois de muito procurarem por ela e de quatro anos passados, ele recebe um bilhete, um convite para se encontrar com Deus, na mesma cabana onde tudo havia acontecido. Sem contar para ninguém da família (ainda muito abalada e bastante desestruturada), com uma depressão ainda mal interpretada, ele resolve ir a este encontro para tirar a limpo a brincadeira de mau-gosto. E se surpreende com o que encontra.

Em um mundo tão cruel e injusto, A cabana levanta um questionamento atemporal: Se Deus é tão poderoso, por que não faz nada para amenizar o nosso sofrimento? A história é contada por um amigo, William P. Young, e este autor afirma que ela é real e pede ao leitor para não ir adiante quando for contar a história, para deixar a surpresa para cada um que tiver o livro em mãos.

É emocionante! Chorei muito ao lê-lo. E ao mesmo tempo, é reconfortante — ainda mais depois de termos passado por tudo que passamos há pouco tempo. O livro foi muito importante para minha mãe também. E mesmo que você não tenha perdido ninguém querido de forma trágica, leia! Você vai enxergar muitas coisas de outra forma, depois de lê-lo.

Marcadores: ,

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

13.8.09

Livro: A Mulher que escreveu a Bíblia

Ótima leitura! Com um humor negro implacável e engraçadíssimo. Eu já havia ouvido comentários sobre a forma que Moacir Scliar escreve e realmente: ele é inteligente! Tem boas tiradas e é muito sutil nos comentários impagáveis da protagonista da história, que é extremamente maliciosa e adora falar de sexo. Ele é tão bom que ganhou o Prêmio Jabuti, em 2000, com este livro. Gaúcho, médico e escritor, Scliar me conquistou! Vou ler seus outros livros, com certeza!

A sinopse deste livro: Ajudada por um ex-historiador que se converteu em "terapeuta de vidas passadas", uma mulher de hoje descobre que no século X antes de Cristo foi uma das setecentas esposas do rei Salomão — a mais feia de todas, mas a única capaz de ler e escrever. Encantado com essa habilidade inusitada (além de ela ser inteligente, sarcástica e desbocada), o soberano a encarrega de escrever a história da humanidade — e, em particular, a do povo judeu —, tarefa a que uma junta de escribas se dedica há anos sem sucesso. Com uma linguagem que transita entre a elevada dicção bíblica e o mais baixo calão, a anônima redatora conta sua trajetória, desde o tempo em que não passava de uma personagem anônima, filha de um chefe tribal obscuro. Moacyr Scliar recria o cotidiano da corte de Salomão e oferece novas versões de célebres episódios bíblicos. Em sua narrativa, repleta de malícia e irreverência, a sátira e a aventura são matizadas pela profunda simpatia do autor pelos excluídos de todas as épocas e lugares.

Você não consegue parar de ler! Prepare-se para rir muito, com inteligência!

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

2.1.09

Uma declaração de amor aos livros

As Memórias do Livro, de Geraldine Brooks, vencedora do Pulitzer de Ficção (por outro livro, que também deve ser muito bom!), é uma delícia de leitura!

A protagonista, Hanna, é uma estudiosa e reparadora de documentos antigos. É assim que ela se depara com uma Hagadá (como uma bíblica judaica) com uma característica não muito comum: ela tem imagens para explicar as passagens e os costumes judeus. Datada do século XIV, a obra deveria ter sido queimada na Inquisição posterior ao período. Ou mesmo não deveria ter sido aceita em seu período — quando os iconoclastas destruíam as imagens que representavam Deus e os acontecimentos, alegando que isso era um pecado praticado pelos homens, que tentavam chegar aos pés do Criador com suas imagens (até hoje a adoração de imagens não é aceita por muitas religiões, não é mesmo?).

O livro em que está trabalhando é para uma exposição no museu em Sarajevo — uma cidade que merece a obra, para melhorar a auto-estima de todos, demonstrando que as religiões “conversavam” entre si na época da Convivência — tempo em que judeus, muçulmanos e árabes viviam juntos e respeitavam-se.

Neste livro, ela descobre de quando e de onde começou a ser, graças ao tipo de pergaminho utilizado (uma pele de cordeiro que era de uma certa região e que extinguiu-se há séculos); e também encontra outros detalhes que podem ajudar a reconhecer por onde o livro passou para chegar até os tempos atuais: um pêlo branco, uma asa de um inseto; vinho e sangue; sal; onde foi feita sua última encadernação e porquê lhe faltavam detalhes importantes em sua capa.

É nessa parte que entram as histórias paralelas: cada resquício encontrado tem sua história, mostrando por onde o livro passou e quem o guardou ou salvou: a escravidão de artistas; as cores difíceis de serem encontradas, usadas nas pinturas; a expulsão dos judeus; a Primeira e a Segunda Guerra Mundial; a Santa Inquisição. Tudo por causa de uma pequena marca deixada num livro — portanto, mais do que a história escrita no livro, há a história que o rodeia e que o fez chegar até os tempos atuais.

Tenho uma amiga que detesta que sublinhemos o livro que estamos lendo ou que façamos anotações nele. Ela tem razão — acredita que seja quase que como um abuso, denegrirmos uma “obra de arte”. Mas, nas poucas vezes que vou a uma biblioteca, gosto de ver isso: pelas mãos de quem um livro já passou e quais poderiam ser as impressões dessas pessoas (inclusive é isso que me faz escrever aqui). Um livro pode andar muito e contar muito de nossa história.

Adoro isso: o cheiro do papel, sua cor característica; o amor de quem me deu ou a delícia de escolhê-lo nas prateleiras; o namoro que se segue entre mim e a capa e o pequeno resumo na orelha do livro. São pequenas declarações de amor a um hábito delicioso de ler e respeitar o que está escrito.

O livro As Memórias do Livro foi criado a partir de fatos reais — como a real descoberta desta Hagadá. Acredito que a autora — uma jornalista que trabalhava em Sarajevo na época de tal descoberta — deve ter esse mesmo amor pelos livros (senão mais) e por isso, escreveu um livro que nos faz nos apaixonarmos mais ainda pela leitura.

Muito bem escrito, com informações reais e pertinentes, que não deixam a ficção ser só ficção. Não dá pra parar de ler! Perfeito pra quem ama livros!

Marcadores: ,

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

Histórias reproduzidas — e criadas — em terras tupiniquins

“Indicar no corpo das tradições, contos, cantigas, costumes e linguagem do atual povo brasileiro, formado do concurso de três raças, que, há quatro séculos se relacionam; indicar o que pertence a cada um dos fatores, quando muitos fenômenos já se acham baralhados, confundidos, amalgamados; quando a assimilação de uns por outros é completa aqui e incompleta ali, não é coisa tão insignificante, como à primeira vista pode parecer.”

É isso que o livro Contos Populares do Brasil, com uma seleção de contos de Sílvio Romero quer nos mostrar: como em regiões diferentes do Brasil, os mesmos contos são contados de formas diferentes, mas, sempre com o mesmo sentido. Ou muitas vezes sem sentido nenhum, sendo somente uma história para divertir crianças.

Depois de ter lido o livro Contos de Fadas dos Irmãos Grimm, é fácil reconhecer a semelhança entre os contos; mesmo aqueles que não vieram da Europa, trazidos pelos portugueses, aqueles contados pelos indígenas ou mesmo pelos africanos (que não tiveram contato com a cultura européia também). Percebe-se que é um senso comum contar as histórias para as crianças — para passar ensinamentos ou somente divertir.

São pequenas histórias, que você pode ler a qualquer hora, sem ordem cronológica ou grandes necessidades de entendimento. Um bom estudo de como começamos nossa cultura e de como nos assemelhamos à cultura de qualquer ser humano. Tendo vindo ele de qualquer lugar. É muito bom reconhecer como a miscigenação no Brasil funciona sem preconceitos.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

6.12.08

A Villa — mais um livro de Nora Roberts

Na minha coleção de leituras, sempre que procuro um livro leve, é Nora Roberts quem me convence.

Negócios familiares dão sempre muita discussão. E também causam muita inveja. É isso que se encontra no livro A Villa, de Nora Roberts: intrigas e paixão; passando pela Califórnia, nos EUA e indo até Veneza, na Itália.

Sophia Giambelli, a herdeira de um império de vinhos, se vê diretamente ligada a Tyler MacMillan, herdeiro de outra parte deste mesmo império: seus avós, casados, fundem suas empresas e os dois herdeiros têm de aprender a trabalhar juntos. Ela, mulher do marketing, sempre envolvida com as relações públicas da empresa; ele, o homem da prática, que trabalha nos vinhedos e conhece o resultado de suas uvas só de olhá-las.

Eles trocam suas funções e têm de aprender a conviver e a respeitar um o trabalho do outro. Soma-se a isso, atentados que vêm ocorrendo contra a família, graças à cobiça de concorrentes desleais. E por isso, eles têm de se unir mais ainda para conseguir resolver esse impasse: vinhos envenenados para acabar com a credibilidade da empresa; pessoas sendo assassinadas; cartas com ameaças.

É um livro para ler sem grandes pretensões. Um romance comercial, de fácil leitura e que mostra bem as relações familiares no trabalho. É claro que os dois acabam juntos depois de muito discutir e tudo se resolve no final. Livros têm essa vantagem.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

24.9.08

Entre vários povos e costumes

Livro A Mulher de Pilatos, de Antoinette May envolve fatos verídicos e ficção

Cláudia. A história da mulher de Pilatos começa em sua infância — romana, sua família diz-se descendente de Vênus e para torná-la ainda mais mágica ao leitor, Cláudia tem vidência. É ela quem nos conta toda a saga de sua família: seu pai é um militar de alta patente, seguidor e braço direito de Germânico, o parente mais próximo do imperador. Portanto, eles vivem a viajar para conquistar novos territórios na época de uma Roma rainha no continente europeu.

O interessante é perceber a adoração por deuses que não nos são comuns. A irmã, Marcela, é castigada pela mulher do imperador (que tinha tanto poder quanto ele) depois de ter dormido com seu neto preferido. É assim que é obrigada a entrar numa “seita”, das vestais, adoradoras da deusa romana Vesta, protetora dos lares — ou seja, muitas vezes a adoração é uma imposição.

No caso de Cláudia, ela se encantou com os poderes da deusa Ísis, que correu o mundo juntando os pedaços do marido Osíris e o ressuscitou — uma ode ao amor incondicional — e que na verdade era uma deusa egípcia, cultuada por Cleópatra. Foi através desta deusa que ela pôde trabalhar sua vidência e também pedir a ela ajuda com poções e encantamentos para que Pilatos se apaixonasse por ela.

Deu certo. Mas sua vida não foi um “mar de rosas”. A infidelidade de Pilatos e depois de muitas provações, ela descobrir que o homem da sua vida era outro fez com que ela se apegasse cada vez mais à deusa e às suas verdades. Uma mulher forte, como parece que toda romana tinha o poder de ser na época, ela nunca aceitou ser subjugada por um homem, fazendo sempre o que bem entendia. Independente, frequentava o templo de sua deusa. E foi lá que cruzou com Jesus uma vez.

Quando foi para um “spa” da época, conheceu Miriam, uma prostituta que se envolvia somente com ricos e poderosos e que depois seria chamada de Maria Madalena. Esta se tornou sua grande amiga por, principalmente, ser bastante culta e inteligente — além de possuir uma beleza exuberante.

Foi tentando ajudar Miriam, depois de ela ter se casado com Jesus e se convertido ao cristianismo, que Cláudia teve suas visões mais fortes sobre as desgraças que viriam depois da morte do messias e ainda de como o nome de seu marido seria lembrado injustamente como sendo o responsável por sua morte.

O livro é muito bom, principalmente para conhecer os costumes de uma outra época; a riqueza dos palácios em contraste com a captura de príncipes para torná-los escravos. Mas não espere saber muito de Jesus ou de Maria Madalena. A história é realmente de Cláudia — os outros só fizeram parte do enredo de sua longa vida.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

31.7.08

Um livro para viajar

Literatura mágica, literatura para leitura devagar. O livro A Fábrica de Papel, de Marie Arana, tem diversos personagens — por isso, deve ser lido com calma e atenção. Bem no estilo de Gabriel García Marquez, com aquelas viagens absurdas para mundos impossíveis.

Neste caso, Don Victor, engenheiro apaixonado pelo papel, se embrenha na Floresta Amazônica peruana e cria sua própria fábrica, na sua própria fazenda. Tem como funcionários índios que vêm para a “aldeia” que se tornou o lugar, chamada Floralinda. Eles não entendem bem as idéias do homem branco, o “homem cupim”, que acaba com a natureza, alegando seu progresso.

O Transformador, como é conhecido Don Victor, resolve produzir celofane ao invés de seu habitual papel pardo e parece que essa mudança traz junto com ela uma maldição: enquanto o xamã da aldeia vê a praga se alastrar, o padre não entende porque não consegue mais esconder suas verdades — como acontece com todos da região.

É um livro de aventura, que nos tira da realidade do dia-a-dia mas, não deixa de discutir as igualdades entre aqueles que se consideram tão diferentes, superiores ou inferiores em relação aos outros. Intrigas graças ao desejo sexual e ao desejo por poder. E o destino se encarrega por fazer com que “coincidências” salvem a todos.

O protagonista tem que aprender a se desapegar de seus costumes. Mesmo depois de acreditar ter feito tanto, ele tem que aprender a recomeçar. No fim, tudo está entrelaçado e nada mais é do que o destino correndo como o rio da Amazônia corre para o mar. Os recortes que fiz aqui e aqui, mostram bem o quanto o livro nos faz pensar.

Uma delícia! Eu recomendo para um tempo de relaxamento.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

28.6.08

A história de plantar e de colher

O livro La Bodega, de Noah Gordon é uma narrativa que se passa no fim do século XVII, quando houve lutas políticas na Espanha e quando uma praga afetava os vinhedos da França.

Você acompanha toda a trajetória de Joseph, segundo filho de um produtor de uvas. Naqueles tempos, o primogênito era quem herdava tudo do pai e o segundo filho devia seguir outro caminho. O autor conseguiu mostrar a história da época com a saga do protagonista: primeiro, tentou lutar com uma milícia sem nem bem entender o porquê, para defender os carlistas. Depois, fugiu para a França, onde aprendeu a cuidar das uvas e dar valor a elas de uma forma diferente do pai, que vendia toda a produção de seu vinhedo para fazer vinagre.

Quando voltou à sua cidade, porque o pai havia morrido, Joseph encontra o vinhedo a venda — o irmão não tinha interesse em abandonar a fábrica movida a vapor (outra novidade da época) em que trabalhava.

E ele consegue comprá-lo e é então que começa toda a história, comum a muitos descendentes de produtores de vinhos: cuidar das uvas, reformar o vinhedo, fazer experiências, começar a produzir vinho de qualidade, aprender a delegar funções, começar a pensar comercialmente, negociar preços e com gente grande. Tudo contado de uma forma que mostra exatamente a rusticidade dos trabalhadores.

Minha identificação com o livro foi óbvia porque é o que acontece com a minha família na produção de cachaça. Um passo atrás do outro, as coisas vão fluindo e exigindo sempre uma nova visão do todo.

Neste livro, você acompanha um pouco da história da Espanha no período, mas muito mais a determinação de agricultores na rotina de todo dia ter que carpir, colher, limpar, cuidar sempre daquilo que mais prezam — o que traz um resultado de trabalho que deve ser comemorado e valorizado.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

31.5.08

A Tenda Vermelha — ficção de outra época

O livro A Tenda Vermelha, de Anita Diamant, foi diferente do que eu esperava. Segundo as críticas que li antes de lê-lo, a história seria da irmã de José, contando a história da Bíblia, pela visão de uma mulher.

Dinah, filha de Jacó, a protagonista do livro, que começa como observadora e termina como personagem principal, conta como eram os costumes em uma época em que as famílias eram praticamente nômades no deserto. Quando viviam em tribos e os homens tinham várias esposas. Mas José, seu irmão, não é o mesmo José de Maria, mãe de Jesus (e é isso que você espera quase que o livro todo para descobrir, e foi assim que me decepcionei com ele).

Foi dessa forma que ela teve quatro mães, todas irmãs. E mais do que a trama em si, que acaba por mostrar o que acontece sempre — a ganância que surge, quando há maiores possibilidades de melhor de vida —, o que ficou do livro, foi a força e a dignidade que uma mãe, mesmo que seja de longe, pode dar a seus filhos.


Bom para conhecer costumes diferentes. Ela, nascida em Canaã, acaba vivendo no Egito e vê as diferenças de considerações que existem entre os dois mundos: no Egito, as mulheres tinham tanto poder quanto os homens, sentando-se ao lado deles nas refeições, que demonstravam carinho por elas. Na cultura cananéia, as mulheres eram inferiores (mesmo que na verdade sempre influenciassem seus maridos) e sempre tinham que estar atrás dos homens.

Bom livro. Com “cenas” fortes de sexo, de adoração a vários deuses e ainda de assassinatos frios e calculados. Realmente uma forma de mostrar a “vida pagã” daquela época, anterior à história de Jesus, filho de Deus. Mas eu esperava mais.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

25.5.08

Um ano sabático para Comer, Rezar, Amar

Eu juro que quando peguei o livro de Elizabeth GilbertComer, Rezar, Amar — pela primeira vez nas mãos, ele ainda não estava na lista dos mais vendidos — às vezes fico chateada por parecer que leio só os livros já comercialmente viáveis. Quando li a contra-capa do livro, estava numa crise existencial, querendo sumir pelo mundo, fugir pra outro planeta e me identifiquei totalmente com a crise pela qual ela passou para resolver se afastar de tudo e se encontrar.

Tudo bem... Eu não terminei um relacionamento como ela (estou muito bem acompanhada, obrigada), mas estava me sentindo um nada na época. E resolvi que tinha que ler o livro pra ver como foi que ela acabou se dando bem. Porque, se ela escreveu um livro, e ele está entre os mais vendidos, é porque o final dele é bom. (Depois de umas duas semanas de namoro até comprá-lo, ele já estava entre os mais vendidos — porque eu gosto dessa “paquera” antes de ter o livro. Depois que os tenho, leio tão rápido, que gosto do sentimento de “sofrer de amor” por ele antes de comprá-lo.)

Liz, a autora (a história é real), resolveu estudar italiano na Itália. Ficou 4 meses em Roma, conhecendo a língua a fundo e comendo muito bem. Depois, foi para a Índia e passou 4 meses aprendendo a meditar. E por último, foi para Bali, na Indonésia, viver perto de um guru espiritual e descobrir que havia curado todas as suas feridas. O livro todo é ela contando suas impressões, vivências de uma forma muito simples, como se estivesse contando pessoalmente pra você — o melhor de tudo é que ela é muito engraçada. É claro que ela fez pesquisas para escrever as coisas com fundamento (os recortes que fiz do livro mostram isso).

Mas, o mais interessante do livro, para mim, é que ele não é um livro de auto-ajuda, ele não te mostra o caminho. Ele só mostra o caminho que a autora seguiu. Você tem que encontrar o seu. Ele é ótimo para descontrair, pra mais uma vez enxergar que todo mundo tem problemas e que sempre há um jeito de remediá-los — e se não há, é porque é preciso colocar um ponto final e seguir em frente!

ADOREI!

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

4.4.08

Os Contos de Fadas dos Irmãos Grimm

O livro Contos de Fadas, dos Irmãos Grimm, conta as histórias como elas realmente eram contadas. A apresentação de Sílvia Oberg é tão interessante quanto as histórias contidas no livro: ela narra que os irmãos eram professores na Universidade de Göttingen, na Alemanha, sendo filósofos eminentes. Eles perderam seus cargos em conseqüência de um fato político. Jakob Ludwig Karl era professor de literatura alemã quando foi abolida a Constituição de Hanover e, por protestar contra tal ato, foi demitido; e Wilhelm Karl foi sub-bibliotecário em Göttingen e mais tarde, professor também na universidade, abandonando o trabalho pelo mesmo motivo do irmão.

Nas palavras de Sílvia, por motivos políticos, “o mundo ganhou um presente precioso”: Jakob e Wilhelm realizaram importantes pesquisas no campo da tradição popular, deixando um rico acervo de histórias, lendas, anedotas, superstições e fábulas da velha Germânia, preservado graças à sua iniciativa.

Ela conta que os irmãos percorreram a Alemanha registrando as narrativas populares que recolhiam de pessoas humildes, muitas vezes analfabetas: comadres da aldeia, velhos camponeses, pastores, barqueiros, músicos e cantores ambulantes. Tudo isso acontecia nos primeiros anos do século XIX, quando os velhos costumes pouco tinham mudado e as antigas tradições conservavam ainda toda a sua força.

O resultado desse trabalho foi excepcional: Kinder und Hausmärchen (Histórias da Criança e do Lar) teve três volumes de livros publicados, reunidos em 1819. Os Irmãos Grimm foram precursores da ciência do folclore, reunindo tradições e culturas populares, dos mais variados grupos. Eles empenharam-se na elaboração de uma obra patriótica, não apenas recuperando e imortalizando os relatos conhecidos por nós como contos de fadas, como também iniciando o Grande Dicionário Alemão, cujo primeiro volume saiu em 1854.

Seu trabalho ganhou proporções que romperam a esfera nacional de importante documento das tradições populares alemãs para espalhar-se pelo mundo, sendo traduzido e imortalizado entre crianças, jovens e adultos que contam e recontam as histórias por eles recolhidas.

Portanto, Walt Disney, muito mais recente, nos ajudou muito a conhecer as histórias através dos desenhos lindamente produzidos. Mas foram os Irmãos Grimm que fizeram com que as histórias não se perdessem no tempo, sendo contadas de mãe para filhos e assim por diante. Sem contar que as histórias do livro são mais verdadeiras, por serem exatamente o que os Irmãos Grimm registraram. Branca de Neve, por exemplo, não teve a piedade de um caçador — tal caçador aparece em outra história, em que ele fica com pena de matar o príncipe que o pai mandou matar por achar que ele o havia traído. A Bela Adormecida, não acordou por causa do beijo do príncipe, mas, porque os 100 anos de sono que a bruxa praguejou para todo o reino dela, haviam passado no mesmo momento em que o príncipe chegou.

E assim por diante, você constata, ao ler o livro, que muito do que nos foi contado e como conhecemos já está um pouco distorcido ou um pouco misturado com outras histórias menos conhecidas. De qualquer maneira, não deixam de ser lindas, não é mesmo? O livro é uma delícia para relembrar o que já está muito bem gravado em nossos corações, quando nos foi passado, através das histórias, por pessoas queridas.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

22.3.08

Livro poderia envolver mais o leitor

Acabei de ler o livro O Guardião de Memórias, de Kim Edwards. A história começa em 1964 — e é interessante perceber como os costumes eram diferentes e como era aquela época até o final dos anos 1980, quando há o desfecho da história.

O enredo é sobre um médico e sua esposa que têm gêmeos, sendo que a menina tem síndrome de Down. Em 1964, filhos com esse tipo de deficiência eram considerados retardados e não eram aceitos pela sociedade. E foi assim que o Dr. Henry resolveu dar sua filha para uma instituição. A enfermeira, que o ajudou a fazer o parto, resolve criá-la e vai embora da cidade.

O homem vive sua vida toda com o sentimento de culpa e sem conseguir revelar para sua mulher que sua filha estava viva e não morta como ele havia afirmado logo após o parto. Paul, o filho que foi criado pelos pais nunca entendeu a distância entre todos da família.

E a história se desenrola assim: em volta da culpa e dos caminhos que a vida leva as pessoas por causa de uma mentira. É um livro pra se ler rapidinho e que poderia ter mais emoção. Não foi um dos meus preferidos, mas como sempre que leio, me desligou do mundo e me fez ver com outros olhos certos aspectos da vida. Causou-me o prazer da leitura, mesmo sendo “morno” — não é preciso pensar muito para ler o livro. Na minha classificação pessoal, é um romance comercial que serve tão somente para passar o tempo.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

27.2.08

Lá vem história pras crianças

Ando lendo livros de fábulas e contos de fadas. Histórias da Rússia; histórias do folclore brasileiro menos conhecidas; um livro com todos os contos dos irmãos Grimm reunidos, mas menos fantasiosos (vou falar sobre ele já-já).

Além disso, tenho sobrinhos que, graças a Deus, adoram livros e histórias antes de dormir. E assim, dentre os vários livros começados ao mesmo tempo que estou lendo (uma bagunça pouco normal para os meus padrões), peguei emprestado um livro novinho do Hugo, meu sobrinho — que devo devolver o quanto antes para sua mãe ter mais conteúdo nas noites que a criança passa em claro.


As histórias deste livro são adaptações das que são apresentadas no programa Lá vem história da TV Cultura de São Paulo. Todas as historinhas contadas nele, são releituras da autora Heloisa Prieto, de histórias e contos folclóricos do mundo todo. Uma delícia pras crianças, editada e publicada pela Companhia das Letrinhas, um braço infantil da editora Companhia das Letras. Falando nisso, acho um charme uma editora já consagrada fazer uma editora só pra livros infantis.


Já li todas as historinhas. Afinal, tenho que devolver o livro. Transcrevo a que mais gostei, abaixo. Divirta-se! E não deixe de ler histórias para suas crianças (porque na verdade, a gente sempre se diverte junto)! ;)

Os cegos e o elefante

Numa cidade da Índia viviam sete sábios cegos. Como seus conselhos eram excelentes, todas as pessoas que tinham problemas os consultavam. Embora fossem amigos, havia uma certa rivalidade entre eles, que de vez em quando discutiam sobre qual seria o mais sábio.

Certa noite, depois de muito debaterem acerca da verdade da vida, e não chegarem a um acordo, o sétimo sábio ficou tão aborrecido que resolveu ir morar sozinho numa caverna da montanha. Disse aos companheiros:

— Somos cegos para que possamos ouvir melhor e compreender melhor que as outras pessoas a verdade da vida. E, em vez de aconselhar os necessitados, vocês ficam aí brigando como se quisessem ganhar uma competição. Não agüento mais! Vou-me embora.

No dia seguinte, chegou à cidade um comerciante montado num elefante imenso. Os cegos jamais haviam tocado nesse animal e correram para a rua ao encontro dele.

O primeiro sábio apalpou a barriga do bicho e declarou:
— Trata-se de um ser gigantesco e muito forte! Posso tocar em seus músculos e eles não se movem: parecem paredes.
— Que bobagem! — disse o segundo sábio, tocando na presa do elefante. — Este animal e pontudo como uma lança, uma arma de guerra. Ele se parece com um tigre-dente-de-sabre!
— Ambos se enganam! — retrucou o terceiro sábio, que apalpava a tromba do elefante. — Este animal é idêntico a uma serpente! Mas não morde, porque não tem dentes na boca. É uma cobra mansa e macia.
— Vocês estão totalmente alucinados! — gritou o quinto sábio, que mexia nas orelhas do elefante. — Este animal não se parece com nenhum outro. Seus movimentos são ondeantes, como se seu corpo fosse uma enorme cortina ambulante!
— Vejam só! Todos vocês, mas todos mesmo, estão completamente errados! — irritou-se o sexto sábio, tocando a pequena cauda do elefante. — Este animal é como uma rocha com uma cordinha presa no corpo. Posso até me pendurar nele.

E assim ficaram debatendo, aos gritos, os seus sábios, durante horas e horas. Até que o sétimo sábio cego, o que habitava agora a montanha, apareceu conduzido por uma criança. Ouvindo a discussão, ele pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do elefante. Quando tateou os contornos do desenho, percebeu que todos os sábios estavam certos e errados ao mesmo tempo. Agradeceu ao menino e afirmou:

— Assim os homens se compartam diante da verdade. Pegam apenas uma parte, pensam que é o todo e continuam sempre tolos.

(História do folclore hindu)

Serviço:
Lá vem história - Contos do folclore mundial
Escrito por Heloisa Prieto
Ilustrado por Daniel Kondo
Companhia das Letrinhas

Marcadores: ,

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

22.2.08

1808 – uma história contada 200 anos depois

Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil

O livro de Laurentino Gomes, Diretor Superintendente da Abril é bom mas, nada além. A obra recebeu críticas positivas por todos os lados. E quem seria capaz de escrever uma linha contra o “chefe”?

Agora, não desmerecendo: 1808 é bom, bem escrito, com bastante história, mas não é tudo isso que todo mundo vem falando. Achei que fosse conhecer intimamente os costumes da corte e principalmente de D. João VI — o que talvez nem os historiadores também conheçam a fundo, por falta de documentação. O que você lê no livro é um apanhado geral de uma época. Muitos nomes, gente que eu não sabia que faziam parte desta história e muita informação que nos faz entender um pouco melhor por que somos como somos hoje.

Mas o livro me fez enxergar pelos olhos de quem chega a um novo país. Cheguei a me sentir dentro dos navios que vieram de Portugal, através das descrições em diários de pessoas que viam Salvador e o Rio de Janeiro pela primeira vez. Isso é bonito. Dá pra confirmar que o Brasil sempre foi maravilhoso.

Agora, quando essas pessoas desembarcam, conhecem nossa verdadeira pátria: suja, preguiçosa, sem cultura ou educação. É um problema que veio da cultura extrativista da colônia, que não precisava se preocupar em manufaturar nada e nem mesmo produzir nada, já que trocava suas matérias-primas por produtos finais de Portugal e quando a corte chegou ao Brasil, pelos produtos da Inglaterra.

O problema continuou a se agravar porque os próprios portugueses que acompanharam o rei para o Brasil, não acreditavam que ficariam aqui por muito tempo ou que deviam se preocupar com a cidade em que estavam. Negros escravos por todos os lados, maltrapilhos e sem expectativas; ruas estreitas e sem saneamento (as “coisas” do pseudo-banheiro eram jogadas pela janela); preocupação somente em ostentar o que se tinha (jóias extraídas de Minas Gerais, muitos escravos à sua volta).

Era uma vida fútil, como deveria de ser no resto do mundo nesta época. Mas aqui era pior porque não havia nenhuma infra-estrutura e a monarquia e mesmo o povo, demorou muito para se preocupar com isso. O que Laurentino Gomes diz, e tem razão, é que provavelmente se a corte não tivesse vindo para o Brasil, hoje o país não seria desse tamanho, teria sido dividido quando começaram as revoltar que a monarquia “estancou” e assim, nosso país não teria a força que tem hoje na América do Sul.

O triste é constatar é que fomos formados a partir do desprezo de uma nação que acreditava ser melhor do que nós e que nos deixou todas as suas dívidas quando foi embora. Note que Portugal também não estava feliz com o rei fugitivo, que os abandonou à própria sorte, na luta contra Napoleão. Como todo mundo já deve saber, D. João era um fraco.

Vale a pena ler o livro. Prepare-se para decepcionar-se (e muito) com os nossos antepassados.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

15.1.08

Uma breve história do mundo

Uma visão geral sobre a humanidade e sua história — essa é a melhor definição que posso dar sobre o livro que acabei de ler. É muita informação sobre desde o surgimento do homem há 2 milhões de anos na África, até a chegada do homem à lua e aos dias atuais.

São somente 342 páginas pra contar muita coisa no livro Uma breve história do Mundo, escrito pelo professor da Universidade de Harvard e da Universidade de Melbourne, o historiador Geoffrey Blainey — suas aulas devem ser uma delícia, já que escreve de uma forma tão simples e imparcial sobre a nossa evolução.

Primeiro, o homem desceu das árvores, na África. Deste ponto em diante, se tornou um explorador: descobrindo plantas comestíveis através do acerto e erro, muitas vezes morrendo envenenado. Caçava o que podia com seus instrumentos ainda muito rústicos, como pedras. E cada vez ia mais longe para descobrir novas formas de se alimentar e viver. Era nômade, até que encontrasse um lugar que considerasse interessantes para viver — e nestes lugares, as gerações posteriores se esqueciam de seus antepassados e de onde vinham. Começaram a plantar e domesticar animais e a se instalar em lugares certos.

Neste tempo, já estavam espalhados pela Europa, Américas, Ásia, Nova Zelândia, Austrália (que ainda não tinham esses nomes, é claro). Os mares subiram, as configurações dos continentes mudaram e as tribos deixaram de ter a possibilidade de contatos entre si (o que já não acontecia, pois estavam muito distantes uns dos outros) e assim, cada uma cresceu e evoluiu conforme as possibilidades de sua região.

A utilização da madeira das florestas, as plantações perto de rios (utilizando os sedimentos que estes deixavam depois das cheias) foram as primeiras devastações de solo que aconteceram. E com elas, a erosão, o empobrecimento do solo e a necessidade de encontrar outras alternativas para se alimentar. Os homens tinham bem definidas as estações do ano, vivendo em função delas: no verão, a colheita e o armazenamento para o inverno; na primavera, os plantios — e assim por diante.

A criação da roda; a descoberta do milho nas Américas; a fabricação de cervejas (que as crianças também tomavam); as plantações de algodão para fazer roupa; e a importação da seda da China para todos os lugares possíveis na época do Império Romano. A riqueza do Egito, as cidades do Oriente Médio; a criação da imprensa, da palavra escrita; a história das religiões, sendo explicadas sem fábulas e de uma forma prática; o surgimento do judaísmo.

Jesus era filho de carpinteiro — na sua época, isso significava ter muito conhecimento. E ele era um exímio orador. Ele simplesmente facilitou os ensinamentos e deveres dos judeus e assim, criou uma religião mais maleável para a época. Fala-se de Maomé (casado com uma viúva rica que muito o ajudou e depois, escreveu sobre as mulheres serem inferiores), criador do islã.

E depois, o descobrimento das Américas, da Austrália; conhecimentos de medicina; a revolução com a máquina de vapor; a deterioração de povos; a unidade européia e suas colônias; as guerras na China, no Japão, entre os países europeus; a Primeira e a Segunda Guerra Mundial — quem foram Hitler, Stálin, Mussolini. A ciência como novo império — o conhecimento como arma e como possibilidade de paz.

É uma visão de tudo. E claro, se for de seu interesse, é preciso se aprofundar. Mas, para ter um conhecimento geral, sem ter que dividi-lo em matérias de história e geografia, como se faz na escola. Tudo é fundido aqui: as duas matérias e ainda a literatura, de suma importância para os registros de outras épocas. Um livro interessantíssimo e que vou reler daqui um tempo — pra não deixar escapar nada!

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

25.12.07

Uma realidade absurdamente dura

Se você se emociona com facilidade, pense bem antes de ler A Cidade do Sol, de Khaled Hosseini. Da mesma maneira que chorei copiosamente com o livro O Caçador de Pipas do autor, me debulhei em lágrimas mais uma vez.

Talvez seja por contar a história de duas mulheres tão fortes dentro de suas possibilidades num país como o Afeganistão. A trama é completamente atual, tendo como pano de fundo a guerra do país contra a União Soviética e depois de ganha essa briga, o levante dos vários “senhores de guerra”, de cada casta que há no país, lutando entre si pelo poder. Depois, para “organizar” o que o país estava se tornando, a chegada dos talibãs — homens que foram criados além de suas religiões, que cresceram no meio de lutas e mísseis. Estes, que seriam o alento do país também se tornaram duros demais, conservadores demais. O livro é tão atual que menciona inclusive o atentado de 11 de setembro, realizado pelo talibã Osama bin Laden. É uma boa maneira de entender melhor a realidade do país, pela ótica de pessoas que vivem isso.

E sempre são as mulheres quem mais sofrem: burcas, depender de homens para poder sair de casa, serem espancadas, humilhadas, estupradas, mortas por seus próprios familiares. Laila, filha de professor universitário e sempre incentivada a estudar, vê tudo se desfazer, se vê obrigada a usar burca, a não poder pensar. Marian, uma harami, ou seja, uma bastarda, nunca teve instrução, nunca nem pensou que teria capacidade de ajudar tanto a pessoas amadas. É através de seus olhos (escondidos atrás das redinhas de suas burcas) e de suas realidades que vemos como a vida pode ser mais difícil do que o imaginável.

O livro mostra o que é uma guerra, o que é uma cultura, o que é a religião para esses países do Oriente Médio. Nada é fácil, tudo é doloroso, todas as lutas (internas, físicas e ideológicas) estão muito próximas do fio tênue entre a vida e a morte. Mas existem momentos felizes, como sempre acontece: a gente tem que ver a felicidade em algum lugar ou não agüentaria sobreviver...

O título original, A Thousand Splendid Suns (uma centena de esplêndidos sóis), foi inspirado em uma poesia que se refere à cidade de Cabul, escrita por um poeta afegão, que foi proibido de ser lido pelos talibãs (tal título faz muito mais sentido e claro, é bem mais poético, como você verá no livro), assim como todos os outros livros que não fossem o Alcorão e também pintar, escrever, cantar. O mais impressionante é o tanto que o povo já sofreu por seu país e que, mesmo assim, volta para reconstruí-lo.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

21.12.07

Para repensar pensamentos e atitudes

Depois de visitar por duas vezes a Casa de Anne Frank (Na foto ao lado, a entrada para o museu), quando estive em Amsterdam e já conhecendo um pouco de sua história, li o livro da adolescente judia: “O Diário de Anne Frank”. Segundo a editora esta é a edição definitiva (de 2006), contendo o diário que foi editado pelo pai, Otto (responsável pela publicação e sendo o único sobrevivente do Anexo na Segunda Guerra) e ainda os comentários que foram considerados indiscretos — como as críticas da menina à mãe, à outra família que vivia com eles. Há mais dados também sobre a prisão da família e explicações sobre como o livro foi encontrado e finalmente publicado.

Sabia do que se tratava (Ao lado, a fachada da empresa, que dá para a rua — o anexo fica atrás): Anne Frank e seus pais e irmã, além de mais uma família que se constituía do casal e seu filho e ainda mais um senhor solteiro, totalizando oito pessoas, estiveram escondidos desde julho de 1942 até agosto de 1944, no “Anexo Secreto” — um espaço atrás de uma fábrica de geléias e temperos, que não pode ser chamado de casa. Judeus, se prepararam desde muito antes para se esconderem, já esperando pela guerra: seu pai, Otto, proprietário da empresa, repassou tudo a seus funcionários, que continuaram a trabalhar e que estiveram com eles durante todo o período de esconderijo, levando suprimentos e as notícias do mundo exterior. (Abaixo, a porta de entrada para a empresa de geléias e temperos.)

O mais interessante foi, conhecendo a história, também conhecer o gênio de Anne Frank: bastante forte. No livro, percebe-se claramente a estafa de todos por terem de ficar durante tanto tempo sem poderem sair, tendo de conviver o tempo todo, sem espaço para se refazerem das diferenças que acontecem na convivência. Como a mais nova, sendo uma adolescente (Anne foi para o Anexo com 13 anos), as crises que teve, as exigências e o amadurecimento da idade demonstram bem o sofrimento da garota. Além disso, a “escritora” faz análises de todos os integrantes do Anexo e sem perceber, mostra com detalhes a realidade de uma época dificílima para os judeus, mas não impossível (pelo menos nesse caso).

É bom ler o livro, principalmente quando estiver com algum tipo de crise: a convivência forçada destas famílias, as dificuldades que passam para se acostumarem uns com os outros; o medo de serem pegos; a fome, que os obriga a comer verduras mofadas e batatas podres; a vontade de viver. Todos os problemas nos fazem repensar nos valores que nós temos, para termos uma melhor noção do que é conforto e do que é poder sair para caminhar a qualquer momento. Coisas simples como poder ver o céu são veneradas por Anne — muitas vezes a gente não tem tempo nem mesmo de olhar para ele, não é mesmo?
Um livro leve, mas profundo que nos mostra outra versão da guerra. Há discussões sobre sua veracidade: não sobre os fatos, mas se realmente o livro foi escrito pela adolescente. (Acima, Marcelo e Anne Frank, em Amsterdam) Fala-se sobre a possibilidade de ser somente um livro de “auto-ajuda” para jovens judeus, fabricado por um ghost-writer. Eu acredito que seja verdadeiro – mas posso ser “pura de coração”, e querer ver o que me interessa. Leia e tire suas próprias conclusões. De qualquer maneira, é uma experiência e tanto!

O Diário de Anne Frank
Por Otto H. Frank e Mirjam Pressler
“Edição Defi
nitiva” – Editora Record – 2006

Marcadores: ,

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

21.9.07

Livro: A distância entre nós

Romance da jornalista indiana Thrity Umrigar, o livro "A distância entre nós" relata costumes da Índia inimagináveis para a nossa realidade e verdades iguais em qualquer lugar do mundo.

A história tem como personagens centrais a patroa, Sera e a empregada, Bhima. Elas são de castas diferentes e por isso, cada uma deve exercer a sua função na sociedade: Sera, da casta dos parses, seria como se da nossa classe média alta; Bhima, aquela que nasceu para ser, pelo resto de sua vida e de seus descendentes, serviçal.

A patroa sofre os abusos de uma classe que deve sempre manter as aparências e que não pode, de jeito nenhum, tratar alguém de outra casta como seu igual. A empregada não pode se sentar em cadeiras ou sofás da casa onde trabalha, não pode usar talheres, copos ou pratos para si, a não ser os utensílios que tem guardados numa caixa de papelão. Na favela onde mora, não há infra-estrutura nenhuma, ou esgoto, ou mesmo luz. Ela se sente ignorante por não saber ler e escrever mas, tem muito mais sensibilidade do que imagina, por baixo de todo o seu jeito ranzinza.

Na verdade, o que se percebe é que, mesmo sendo de castas diferentes, as duas se aproximam por sofrerem a opressão de serem mulheres, por deverem aceitar e fingir não saber muitas coisas. É uma dura realidade, que se passa na cidade de Bombaim. É difícil acreditar no desfecho do livro. Eu esperava que depois de tanto sofrimento, essas mulheres se rebelassem, se abraçassem, se unissem. A história é muito mais verdadeira e cruel do que se imagina.

Para conhecer novos costumes, e costumes nada bonitos, a leitura compensa: muito bem escrito, você lê num instante a triste história da sociedade da Índia, no microcosmo da vida dessas duas mulheres.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

2.7.07

A menina que roubava livros – Lindo e triste

Quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler.

Era de se esperar que o livro de Markus Zusak, fosse triste. Afinal, a história é contada pela Morte, que se apresenta como uma ótima blogueira, na sua forma de escrever. Ela vai e vem no tempo, para nos preparar às tragédias que estão por vir. A forma com que escreve a história é leve, mesmo sendo triste. E ela sempre tem cores para amenizar os acontecimentos.

O tempo é da segunda guerra mundial, e Liesel mora em uma cidadezinha (Molching) nos arredores de Munique, depois de ter sido entregue por sua mãe a outra família, já que não tinha como sustentá-la. Perde seu irmão, ganha novos pais e um grande amigo nas traquinagens, Rudy. Além disso, seu novo papai, um tocador de acordeão, é uma pessoa boníssima, que abriga um judeu no seu porão, em plena caça à “raça inferior”. Max, o judeu, é outro que faz com que Liesel enxergue o mundo de outra maneira e ainda saiba sempre como está o tempo, para contá-lo ao amigo que não pode sair do porão.

Liesel, que começa sua história criança ainda, não entende por que tem que adorar Hitler, por que as pessoas vão embora, o porquê das fogueiras para queimar os livros que tanto adora. E principalmente, por que todos têm tanto medo. Antes da morte, a vida ensina.

A todos que vai buscar, a Morte traz e vê no seu céu uma cor diferente – ou de guerra, ou de alívio, ou de desespero. E é lindo como ela explica cada cor que vê. Ela observa Liesel e a reconhece todas as vezes em que vem buscar alguém que é querido à menina.

A paixão de Liesel pelas palavras, que aprendeu com seu pai, escrevendo na parede, a faz roubar os poucos livros que tem, lendo e relendo-os várias vezes, para si e para os outros. E depois, é ela quem escreve a história que nos é contada pela Morte.

A maneira com que a menina encontra com a Morte é branda e muito bonita, mas foi essa senhora que levou a todos durante a guerra. E a gente imagina a dor que seja ver todos indo embora. É de chorar... E muito! E é lindo!

Muitas das palavras, dos palavrões, das explicações, não foram traduzidas do alemão para o português. Eu, que adoro a língua, fiquei mais apaixonada ainda pelo livro e quem não fala alemão, entende pelo contexto, percebe que se fosse traduzido, perderia o sentido. Enfim, muito bem amarrado, envolvente e que mostra uma Morte – por mais que diga que esta é a única qualidade que não tem –, muito simpática e quase humana.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

10.6.07

Um livro para se apaixonar

Corria o tempo, passava a história, mudavam os personagens, mas o amor sobrevivia. Oriente e Ocidente, tão diferentes, mas tão atraentes um para o outro quanto o homem e a mulher. Como as duas faces de um mesmo mundo.
(Sua Alteza, o marajá Jagatjit Singh de Kapurthala, no final de sua vida.)

Com certeza você já assistiu algum daqueles filmes antigos, com Gary Grant ou Audrey Hepburn, entre vários outros atores que minha mãe sabe todos os nomes de cor e salteado. São aquelas histórias doces, que sempre têm final feliz, mesmo que o final não seja perfeito. Um outro ritmo de vida, uma outra época.

É isso que você vai encontrar em “Paixão Índia”: uma biografia, ou seja, a história é real. Mas é um romance de mão cheia. Aprende-se muito sobre a cultura indiana, vê-se a história contada por um outro ângulo. O marajá de Kapurthala, um dos Estados do Raj (como a Inglaterra era chamada quando a Índia era governada pela rainha Vitória – 1907), se apaixona por Anita, uma espanhola que começava a dançar num teatro.

Enquanto ele não conseguiu conquistá-la, não desistiu. E aí, entra todo o impacto entre Ocidente e Oriente: ele dava dinheiro à família dela, como se quisesse comprá-la, mas esse era o costume no seu país. Ela, nunca ficou no harém do marajá – o que causou muito ciúme e brigas nas outras mulheres do príncipe.

Homens que tratam suas várias mulheres como rainhas, estudando na escola, junto com matemática e história, o Kamasutra! A riqueza dos detalhes, a opulência, a felicidade e o sofrimento. A solidão e o jet set. E um desfecho digno de um gentleman, como o marajá se mostrou. Tem festas, recepções, jóias dadas como se fossem somente pequenos mimos, tem escândalo. Você lê sem perceber, sem querer acabar. A história real poderia bem ser um conto de fadas: mesmo sem ser completamente perfeito, o final é feliz!

Tudo vale, porque a paixão nos espera.
Kamasutra 2.3.2

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

25.5.07

O Códex 632: Mais do que se aprende na escola

Uma aula de história. Se real ou não, fica a seu critério.

O livro “O Códex 632”, de José Rodrigues dos Santos, foi lido com muito prazer. Como o autor é português de Portugal, a editora decidiu manter o original para o público brasileiro e foi interessante ver as diferenças de uma mesma língua para os diferentes países. Mas o melhor não fica aí: no meu caso, como eu adoro estudar línguas, simpatizei com o protagonista logo no início, já que ele é um professor, criptógrafo, historiador, que estuda e pesquisa a origem das línguas, que analisa as possibilidades da origem da forma escrita e, enfim, tudo que engloba a comunicação através da fala e da escrita.


Ele é convidado a estudar a fundo uma pesquisa iniciada por outro historiador, que morre e deixa pistas sobre o que descobriu. Como um criptógrafo (quem estuda a arte de escrever em cifra ou código), nada melhor do que tê-lo como aliado para decifrar o tal segredo: Colombo era mesmo Colombo? Qual era sua verdadeira identidade?

O livro é interessante principalmente porque acabamos por aprender muito mais do que lemos e ouvimos na escola — naquela época em que estudar o descobrimento das Américas, do Brasil, não era o assunto mais em voga na nossa realidade infantil — sobre nossa história. Ou seria a história dos portugueses?


A história contada nos livros hoje é de que Colombo era um tecelão genovês, de origem muito simples. Mas, nos documentos, todos reais (eles existem mesmo!), ele nunca escreveu uma palavra em italiano e, em compensação, sabia latim — para alguém de origem simples isso era impossível. Seu espanhol era aportuguesado (como o nosso portunhol) e sua assinatura deixava algumas pistas de uma outra nacionalidade e religião. E o navegador sempre fez mistério sobre sua origem — nem mesmo seu filho sabia onde ele realmente havia nascido. Documentos provam.


Tomás passa o livro todo buscando informações, pesquisando, viajando em busca de mais verdades. E o livro é isso mesmo: uma viagem em que conhecemos mais sobre Portugal e várias de suas cidades, Jerusalém, Espanha e até Nova York. Porque além de falar sobre os documentos pesquisados, os lugares em que eles se encontram ou que há pessoas que possam ajudar, são minuciosamente detalhados, para que o leitor conheça ou reconheça por onde o protagonista passa.

O melhor de tudo é a reviravolta que a história dá. Um livro pra ler com calma e assim, poder absorver todas as novas informações que nos traz.


De qualquer maneira, marquei algumas páginas que quero publicar aqui. Como a história do número 9, que já comentei, tem mais alguns assuntos que ele levanta bem legais a serem debatidos.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

6.4.07

Ser da realeza às vezes não adianta

Acabei de ler o livro “Princesa – A história real da vida das mulheres árabes por trás de seus negros véus”, de Jean P. Sasson. A autora reconta a história verídica que ouviu de Sultana, princesa árabe que teve seu nome trocado para não sofrer perseguições ou maiores problemas em seu país, podendo ser morta de alguma maneira cruel.

Sultana é uma princesa na Arábia Saudita que não aceita as leis e os sofrimentos pelos quais as mulheres do país são submetidas. Casamentos arranjados, logo quando elas menstruam, com homens que teriam idade para serem seus pais ou até mesmo avós; a mutilação dos órgãos genitais; a proibição de serem ativas na sociedade e seres pensantes. Os homens lêem o Corão, livro de Maomé com os ensinamentos que este ouviu de Deus, conforme seus interesses, tornando sempre a mulher um ser inferior.

A princesa conta fatos reais de acontecimentos que a cercaram: a predileção por filhos homens e o desprezo pelas mulheres; o assassinato de filhas pelos próprios pais por causa de supostos crimes contra o Corão. O livro é de 1992 e é um apelo da princesa para que o mundo volte os olhos para o sofrimento dessas mulheres. Desde lá até os dias atuais, talvez alguma coisa tenha mudado, mas acredito que as mulheres sofrem até hoje todos os tipos de abusos e muitas vezes são tratadas como animais, sendo vendidas a seus maridos, casando-se sempre em família e com muçulmanos “para que a religião e a família se propaguem sempre”.

Eu chorei lendo esse livro — e sei que não há muito que se possa fazer numa tradição milenar e numa nação que é rica graças ao petróleo. O machismo ainda reina em grande parte do mundo e isso é triste. Em tempo: parece que para a maioria dos homens mulçumanos, todas as mulheres que não seguem os mandamentos de Maomé são prostitutas.

______________________________

Versículo do Corão — livro sagrado do islamismo, dividido em 114 Suras (capítulos) —, sobre o número de mulheres que um homem pode desposar e as instruções para presenteá-las com um dote:

SURA III, 3
Case-se com as mulheres de sua escolha,
duas, três ou quatro;
mas, se tiver receio de não poder
tratá-las com igualdade,
então pegue apenas uma mulher
ou uma cativa
que sua mão direita possui,
pois isso será mais adequado
para evitar que você
cometa uma injustiça.
Ao se casar, dê de presente às mulheres
o dote a que elas têm direito;
mas se elas, de livre e espontânea vontade,
lhe devolverem parte do dote,
aceite-o com prazer
e faça bom proveito dele.

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

25.3.07

O Segredo do Anel – O legado de Maria Madalena


(Sandro Botticelli - A Primavera, 1478)

Não consegui parar de ler até acabar. E queria mais. Retiro o que disse quando escrevi que este livro seguia a onda de O Código da Vinci. Kathleen McGowan, a autora, surpreende do começo ao fim com sua história envolvente e mais ainda no posfácio – dá pra debater e muito seu livro e suas visões.

A história é sobre uma escritora e jornalista – Maureen (seria a própria autora?) – que busca outros pontos de vista sobre histórias que conhecemos há tempos. Maria Antonieta, rainha da França que tem como estigma a famosa frase “se não têm pão, que comam brioches”; Joana D’Arc, um símbolo cristão, vistas de outra maneira, dentre várias outras mulheres citadas – o que inclui principalmente Maria Madalena, que acaba por tomar conta de todo o livro –, elas têm suas histórias
recontadas pela protagonista.

O mais interessante é quando ela diz: “A história não é o que aconteceu. A história é o que foi escrito”. Realmente, a mulher conseguiu se igualar em direitos ao homem há pouco tempo (se é que chegamos definitivamente mesmo a este patamar). Analisando tudo que conhecemos e sabemos, a sociedade sempre foi machista e durante muitos séculos teve a mulher como ser inferior. Ou seja, contaram as histórias que conhecemos quem podia contá-las: homens, a elite, quem podia comandar a massa. Não digo que sejam pessoas más, mas estes oferecem apenas um ponto de vista para histórias que sempre têm vencedores e perdedores ou ainda grandes companheiros – de igual para igual.


E é aí que o livro fica melhor ainda: Madalena não é uma prostituta como conhecemos na bíblia, mas uma mulher que se casou e teve filhos de Jesus. Os apóstolos não são exatamente como conhecemos: Judas não foi um traidor. João Batista, primo de Jesus, também se intitulou o escolhido – tudo muito m
ais politicagem do que poderíamos acreditar.

O livro faz grandes revelações e se diz ficção, mas eu não duvido que seja uma história real. A mesma história sendo contada por outro ângulo. Talvez mais sincero, talvez menos preconceituoso. Como saberemos?

A decisão de acreditar ou não é sua, mas a leitura vale cada linha.

E se for ler, tenha as obras de Boticelli e de da Vinci à mão. É melhor ainda para ilustrar seus pensamentos e seus credos, enquanto devora o livro.

“Y gwir erbyn y byd” (traduzido do galês: “A verdade contra o mundo”)
Boadicea – rainha-guerreira celta do século I

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

16.3.07

Neve: livro não é tudo que se espera

Ka, poeta turco refugiado em Frankfurt, na Alemanha, vai ao enterro de sua mãe, em Istambul. Lá, resolve ir para Kars, uma pequena cidade turca, que se leva um dia e meio de ônibus para chegar. Ele levou 3 dias – por causa da nevasca.

Ele decide ir para a cidade com a desculpa de escrever para um jornal de Istambul sobre moças muçulmanas que estão se suicidando na cidade: elas não aceitam tirar o véu, conforme o Estado vem exigindo para que possam freqüentar a faculdade. Mas, ao mesmo tempo o suicídio é condenado pelo islamismo: para afirmar sua religiosidade, estão cometendo um pecado. Enfim, os suicídios são somente uma desculpa para ele ir à cidade rever Ipek, uma amiga de sua época de faculdade.


A discussão do livro, que tem como tempo de acontecimentos 3 dias (os dias em que a cidade fica incomunicável por causa da neve que não pára de cair) é sobre os ideais e as lutas de ideais entre um Estado secularista e os islamitas – conflitos raciais e religiosos. Além disso, os personagens exigem de Ka que decida se é ou não ateu – algo que parece essencial para a sociedade deles.


Enfim, o livro extremamente moroso (imagine: quase 50 páginas para 3 dias), o que cansa a leitura. E como é um assunto que não compreendo tão bem, já que é uma outra cultura, uma outra forma de ver e exigir as coisas da vida, o livro exige uma grande concentração. Até aí, tudo bem. Mas, o desfecho é sem graça, a história não tem um fim.

Mas, claro, tem suas partes interessantes. Vou transcrever aqui as falas de um jovem curdo, que discutia com vários outros, de várias “facções” e religiões, o que escrever para o jornal alemão, que Ka inventou que trabalhava (ele fazia um freela para um amigo em Istambul, e não em Frankfurt), para que o Ocidente – gente hipócrita, segundo eles – soubesse o que pensavam as pessoas do Oriente:

O maior erro da humanidade, a maior ilusão dos últimos mil anos é a seguinte: confundir pobreza com estupidez. Através da história, os líderes religiosos e outros ilustres homens de consciência sempre alertaram contra essa confusão vergonhosa. Eles nos lembram que, como todo mundo, os pobres têm coração, mente, humanidade e sabedoria.

(...)

As pessoas podem lastimar a sorte de um homem que passa por dificuldades, mas quando toda uma nação é pobre, o resto do mundo imagina que todo o seu povo deve ser desmiolado, preguiçoso, sujo, um bando de imbecis grosseiros. Em vez de inspirar piedade, esse povo provoca gargalhadas. Tudo é uma piada: sua cultura, seus costumes, seus usos. A certa altura, no resto do mundo, algumas pessoas podem começar a sentir vergonha por terem pensado assim, e quando olham em volta e vêem imigrantes daquele país pobre limpando o chão e fazendo outros trabalhos mal remunerados, naturalmente começam a se preocupar com o que pode acontecer se um dia esses trabalhadores se levantarem contra elas. Então, para evitar que as coisas degringolem, começam a mostrar interesse pela cultura dos imigrantes e às vezes chegam a fingir que os consideram como iguais.

Vem cá, fala sério: que tapa na cara, hein!?

É de se pensar: será que o terrorismo começa assim?

Essa postura é a cara dos imigrantes na Europa, não!?

Será que o Brasil está muito longe dessa realidade?


Por essas discussões, o livro compensa, mas, eu não indico. Político demais e ao mesmo tempo, superficial – é a minha opinião, é claro! Quem sou eu para julgar mal o livro que fez com que o autor, Orhan Pamuk, ganhasse o Prêmio Nobel de Literatura em 2006...

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

6.2.07

O Livreiro de Cabul – retrato de uma realidade

No fim de semana, acabei de ler O Livreiro de Cabul, de Åsne Seierstad – o primeiro da lista de livros para o semestre. Com toda uma veia jornalística na forma de escrever, ele mostra como acontecem coisas corriqueiras no dia-a-dia do Afeganistão, humanizando as histórias com seus personagens reais: não é um romance, são relatos muito bem contados.

Relatos reais e imparciais de pessoas diretamente ligadas a Sultan Khan, o tal livreiro de Cabul. É compreensível que ele tenha processado a autora: o homem se acha à frente de seu tempo por colecionar e defender seus livros, por achar que a história de seu povo está ali, entre todos os livros que salvou ou copiou – mas não deixava seus filhos irem à escola para cuidarem de suas livrarias. Ler sobre você e se ver como um tirano deve ser muito difícil. E realmente ele é um afegão em todos os aspectos, principalmente no seu machismo. Sem que ninguém da família possa contrariá-lo, nem percebe o mal que faz a todos. Acredito que lendo o livro, teve uma outra visão de si próprio.

Ao mesmo tempo, não é culpa dele: a religião (que ele não segue cegamente) e a cultura do país o fizeram ser assim. Os acontecimentos no livro são logo após a queda do Taliban e as mulheres ainda tinham medo de não usar a burca, por acharem que se tornariam impuras sendo vistas por outros homens. Os rapazes ainda têm medo de terem pensamentos “sujos” com outras mulheres, o que também os torna impuros.


E ainda ficamos sabendo de histórias que nem são tão contadas por aqui: as burcas não surgiram do Alcorão – um sultão do começo do século passado que não queria que as 200 mulheres de seu harém fossem vistas por todos, inventou burcas bordadas e enfeitadas para que elas usassem. A elite gostou e copiou. Os pobres acharam bonito se vestir como os ricos e também copiaram – e depois disso, o Taliban resolveu tornar obrigatório. Nos anos 70, os afegãos usavam roupas ocidentais e recebiam visitas de muitos turistas hippies (muito interessados no haxixe, diga-se de passagem).


O que mais choca são as “adaptações” que acontecem por causa de uma cultura: como as mulheres viviam escondidas em suas burcas, dentro da casa de suas famílias, os jovens não têm contatos antes do casamento (a não ser com as viúvas que vendem seu corpo para sobreviver, já que eram sustentadas pelos maridos). E por não terem como “namorar”, muitos procuram outros homens: o homossexualismo é muito difundido no sul do Afeganistão.


É uma boa forma de ter uma visão real (e triste) do que acontece por lá: eu recomendo!

Marcadores:

Emoório Biergarten: Cultivando Prazeres

26.1.07

Livros para ler

Dando minhas voltinhas pelas livrarias, me interesso por milhões de histórias e assuntos. Aí, depois de ver e anotar nomes e preços na livraria, fui até o Submarino, comparar preços e copiar as sinopses, pra não me esquecer. Li todas as abas, capas e contra-capas dos livros mas, minha memória é péssima!

Escrever o que vejo e o que quero, é uma necessidade!
Essa listinha aí debaixo seria a minha meta de leitura para o primeiro semestre. Fica aí a sugestão (já com os preços do Submarino, sem frete):

O Livreiro de Cabul, Åsne Seierstad (R$ 29,90) — A jornalista norueguesa viveu três meses em Cabul, com o livreiro Sultan Khan e sua família para escrever o que viu. A reportagem sobre a vida afegã depois da queda do Talibã, pelo que li, mostra que as mulheres continuam sofrendo, sem nem saber como seria viver em outra cultura.

Neve, Orphan Pamuk (R$ 36,90)
Aprisionado pela neve em uma minúscula e remota cidade da Turquia, o poeta Ka se vê no epicentro de um microcosmo de conflitos raciais e religiosos do mundo muçulmano.

O Segredo do Anel: o Legado de Maria Madalena, Kathleen Mc Gowan (R$ 22,30)
O livro é uma viagem de aventura, suspense e romantismo em que um anel enigmático é a chave para a descoberta de um segredo muito bem guardado por mais de 2.000 anos. Na onda de “O Código da Vinci”, é claro...

O Códex 632, José Rodrigues dos Santos
(R$ 32,90)
Um historiador português é contratado para investigar a verdadeira origem do navegador Cristóvão Colombo. Ao longo de suas pesquisas, ele se depara com uma série de descobertas surpreendentes: mensagens criptografadas, segredos e assassinatos, numa trama de tirar o fôlego.

Paixão Índia, Javier Moro
(R$ 27,90)
O livro conta a história de Anita Delgado, jovem bailarina andaluza que se transformou em princesa na Índia. Na Índia colonial do início do século XX, Anita e o rajá de Kapurthala viveram uma história de amor que provocou um inevitável choque cultural entre Oriente e Ocidente. As outras mulheres do marajá e seus súditos viam em Anita uma ameaça à tradição hindu. Apesar de estar cercada de vassalos e luxo, a jovem vivia na mais completa solidão. Javier Moro realizou pesquisas detalhadas, tanto na Europa quanto na Índia, para construir uma narrativa minuciosa sobre a relação entre o casal, que terminou como um dos maiores escândalos da Índia inglesa.

A Tenda Vermelha, Anita Diamant
(R$ 13,90)
Na Bíblia, as mulheres ocupam um lugar à sombra, por isso ficamos privados de sua sensibilidade na descrição dos acontecimentos. Numa narrativa envolvente, a autora resgata esse olhar feminino e dá vida às personagens bíblicas, recriando o ambiente em que viveram, seu cotidiano, suas provações e suas paixões. Filha de Jacó e Lia, Dinah - cuja trajetória é apenas sugerida no Livro do Gênese - é a figura central desta trama, que começa com a história das quatro esposas de Jacó, a quem ela chama de "mães": Lia, Raquel, Zilpah e Bilah.

O Tigre de Sharpe - vol. 1, Bernard Cornwell
(R$ 45,90)
Primeiro volume de “As Aventuras de Sharpe”. Sucesso em todo o mundo, a série conta a história de Richard Sharpe, oficial do exército britânico nas batalhas napolêonicas do século XIX. Neste livro, Sharpe, recém-integrado às forças britâncias, segue pela Índia, onde ajudará a destronar um impiedoso sultão e seus aliados franceses.

Marcadores: